Red Hat Muda as Regras! Qual Futuro da Oracle Linux, Alma Linux, Rocky Linux…?

Entenda tudo, de forma completa, o que está se passando no mundo Linux nesse momento(07/2023). Qual a bomba que estourou e pode levar a Red Hat a responder na justiça por ser acusada de ir contra a licença GPL. Por, segundo alguns, “quebrar regras” que dificultam as distros Oracle Linux, Alma Linux, Rocky Linux etc… de manterem-se atualizadas com a RHEL!

“Começando pelo começo”, vamos falar um pouco sobre a Red Hat e suas distros. Isso será um facilitador para aqueles que são novos ou de vêm outras áreas mas que estão tentando entender tudo isso! Sim, é um ‘problemão‘ o que irei abordar aqui. Mas, particularmente, já sabia desde o início que desvios no meio do trajeto da Red hat poderiam acontecer. Muitos pensam/acham que o foco da Red Hat é apenas financeiro e, por isso, está indo contra a GPL.

Lembre, ou saiba :), que a IBM adquiriu a Red Hat por $34 Bilhões, conforme post de 9 de julho de 2019 no site da própria redhat.

Distros Espelhos da RHEL

Muita gente confunde os termos Red Hat e RHEL(ou Red Hat Enterprise Linux):

• Red Hat é o nome da empresa desenvolvedora
• RHEL é o nome do Sistema Operacional principal da empresa.

Além da distro RHEL, existem as próprias variantes RHEL da Red Hat: CentOS Stream e Fedora. Todas essas distros são distribuições Linux de código aberto(open source). Isso significa que qualquer um – sim, até você – pode pegar o código-fonte do RHEL e criar sua própria distribuição baseada em RHEL. Veja bem, é muito mais fácil dizer do que fazer.

Além dessas distros que são da própria Red Hat, há outras, de outras empresas, que são espelhos, mantém toda a estrutura da RHEL. Toda atualização lançada para a RHEL vai para essas distros espelhos. Dentre muitas, podemos citar: Oracle Linux, Alma Linux e Rocky Linux.

A Alma Linux e Rocky Linux foram criadas após um outro comportamento, para muitos atípico, da Red Hat que ocorreu em 2020, quando a Red Hat mudou o CentOS de um clone estável do RHEL para uma distro do Linux que receberia atualizações “como cobaia de testes”. CentOS se torna o CentOS Stream. Isso quer dizer que a dsitro CentOS deixaria de ser estável. A CentOS Stream é voltada para desenvolvedores de Softwares. Sim, a distro CentOS pertence à Red Hat, mas diferentemente dessa, o CentOS era gratuito e muito mais usada por empresas em produção em seus servidores.

Agora, o CentOS é um upstream, ou seja, sempre estará à frente(up). Ficando impossível ser usada em empresas que requer sistema com atualizações programadas e testadas contra falhas.

A distro RHEL tem seu suporte pago. A Red Hat queria “matar” sua distro CentOS pensando que os usuários iriam usar o RHEL? Se foi essa a intenção acabou dando um tiro no próprio pé; os usuários do CentOS foram para Ubuntu, Debian….

Como que as Distros Espelhos Funcionam?

A Red Hat envia, ou enviava, seus SRPMs para um servidor que chamados de repositório. Um SRPM é um pacote RPM contendo o código fonte.

Esse repositório é o  git.centos.org. As distros espelhos pegam(ou pegavam 🙂 ) daí os pacotes e assim se mantinham igual, bit a bit, igual ao RHEL. Esse é o centro de toda a confusão atual.

Mesmo com a transformação do CentOS em CentOS Stream, apenas para “desenvolvedores” e não mais para serem instalada em servidores, esse repositório se manteve ativo com a Red Hat enviando os pacotes. Até…. até o mês 06 de 2023.

O Grande Problema para as Distros Espelhos

Em 21 de junho de 2023, através de uma mensagem via blog, Mike McGrath, vice-presidente das plataformas principais, anunciou o seguinte:

…queremos aprimorar nosso foco no CentOS Stream como a espinha dorsal da inovação corporativa do Linux. Continuamos nosso investimento e aumentamos nosso compromisso com o CentOS Stream. O CentOS Stream agora será o único repositório para lançamentos públicos de código-fonte relacionados ao RHEL. Para clientes e parceiros da Red Hat, o código-fonte permanecerá disponível no Red Hat Customer Portal.

Deu para entender? O repositório git.centos.org não terá mais recebimentos de códigos fontes da Red Hat e como o CentOS Stream é apenas uma distro sem estabilidade, voltada para desenvolvedores, não terá como ser usada como local(repositório) de onde as distros espelhos pegam o que precisam.

O problema enfrentado pelos distribuidores de clones do RHEL — como AlmaLinux, Rocky Linux e Oracle Unbreakable Linux – é que eles não podem mais criar facilmente sistemas operacionais compatíveis com RHEL. Não podem pegar pacotes do CentOS Stream, pois este é a versão futura do RHEL. 

A Licença GPL

Todas essas distros citadas acima seguem a licença GPL, que está em sua versão 2, ou v2.

A Licença GPLv2 é um acordo de licenciamento de software livre que garante ao usuário a liberdade de executar, estudar, distribuir e modificar o software, desde que qualquer versão modificada também seja distribuída sob a mesma licença. Ela também exige que o código-fonte seja disponibilizado juntamente com o software e que quaisquer patentes relacionadas sejam licenciadas gratuitamente.

Falando de maneira mais informal, você pode alterar do seu jeito uma distro que está sob a licença GPL, mas não poderá reter somente para si ou limitar seu uso por outras pessoas.

Abordo a licença GPL pois essa é uma das causas que muitas empresas alegam que a Red Hat está “pisando na bola” ou está indo contra.

Vamos adiante!

Red Hat Recebe Críticas Ferrenhas

Em 26 de junho de 2023, Mike McGrath escreveu um outro post em resposta às críticas recebidas. Ele começa falando,

Passei muito tempo caminhando neste fim de semana pensando na reação de nossa indústria ao meu último post no blog. Fomos chamados de maus; Fui chamado de executivo da IBM que foi instalado para transformar o Red Hat em código fechado – e isso é apenas o lado “legal”. Então vamos esclarecer as coisas.

Ele faz um grande desabafo!

Ele se defende falando que dentro da Red Hat,

milhares de pessoas gastam seu tempo escrevendo código para habilitar novos recursos, corrigindo bugs, integrando diferentes pacotes e dando suporte a esse trabalho por um longo tempo – algo que nossos clientes e parceiros precisam.

Continua,

Além disso, quando desenvolvemos correções para problemas no RHEL, não as aplicamos apenas ao RHEL – elas são aplicadas primeiro no upstream, em projetos como Fedora, CentOS Stream ou no próprio projeto do kernel, e depois as transferimos. Manter e dar suporte a um sistema operacional por 10 anos é uma tarefa hercúlea – há um valor enorme no trabalho que fazemos.

Depois de ser atacado ao falarem que a Red Hat vai contra a GPL, ele continua, e digitou em negrito para destacar,

Sempre enviaremos nosso código upstream e cumpriremos as licenças de código aberto que nossos produtos usam, o que inclui a GPL. Quando digo que cumprimos as várias licenças de código aberto que se aplicam ao nosso código, estou falando sério. Fiquei chocado e desapontado com quantas pessoas erraram tanto sobre o software de código aberto e a GPL em particular – especialmente observadores da indústria e até mesmo veteranos que eu acho que deveriam saber mais. Os detalhes — incluindo licenças e direitos de código aberto — são importantes, e são coisas que a Red Hat ajudou não apenas a formar, mas também a preservar e evoluir.

Ainda se defende

Sinto que grande parte da raiva de nossa recente decisão sobre as fontes downstream vem daqueles que não querem pagar pelo tempo, esforço e recursos destinados ao RHEL ou daqueles que desejam reembalá-lo para seu próprio lucro. Essa demanda por código RHEL é hipócrita.

Temos que pagar as pessoas para fazer esse trabalho – aqueles colaboradores apaixonados trabalhando por longas horas e noites que acreditam nos valores do código aberto. Simplesmente reembalar o código que esses indivíduos produzem e revendê-lo como está, sem nenhum valor agregado, torna a produção desse software de código aberto insustentável.

A fonte do gitlab do CentOS Stream é onde criamos versões do RHEL, em aberto para todos verem. Chamar o RHEL de “fonte fechada” é categoricamente falso e impreciso. O CentOS Stream se move mais rápido que o RHEL, então pode não estar no HEAD, mas o código está lá. Se você não conseguir encontrá-lo, é um bug – informe-nos.

Bom, muitos enxergaram na conversa dele como que chamado os ofendidos de sanguessugas.

Falas de Alguns Críticos Contra a Red Hat

Benny Vasquez, presidente do conselho da Fundação AlmaLinux diz que a Red Hat está indo contra a GPLv2,

Os acordos de interface do usuário da Red Hat indicam que a republicação de fontes adquiridas por meio do portal do cliente seria uma violação desses acordos.” Isso, por sua vez, os colocaria em violação da GPLv2

A Rocky Enterprise Software Foundation declarou,

Os Termos de Serviço (TOS) e os Contratos de Licença de Usuário Final (EULA) da Red Hat impõem condições que tentam impedir que clientes legítimos exerçam seus direitos garantidos pela GPL. Enquanto a comunidade debate se isso viola a GPL, acreditamos firmemente que tais acordos violam o espírito e o propósito do código aberto. Como resultado, nos recusamos a concordar com eles, o que significa que devemos obter os SRPMs [arquivos RPM de origem] por meio de canais que cumpram nossos princípios e defendam nossos direitos.

A Rocky Linux acredita que as “fontes do RHEL consistem principalmente em pacotes upstream de projetos de código aberto que não são de propriedade da Red Hat”.

Mas nem toda a raiva vem daqueles a quem McGrath parece estar chamando de aproveitadores. Bradley M. Kuhn, bolsista de políticas do Software Freedom Conservancy (SFC), explicou sua posição:

Por aproximadamente vinte anos, a Red Hat (agora uma subsidiária integral da IBM) experimentou a construção de um modelo de negócios para implantação e distribuição de sistema operacional que parece, sente e age como proprietário, mas ainda assim está em conformidade com a GPL e outros padrões termos copyleft. Ativistas de direitos de software, incluindo SFC, passaram décadas conversando com a Red Hat e seus advogados sobre como o modelo de negócios do Red Hat Enterprise Linux (RHEL) enfrenta desastres e é ativamente hostil ao Software Livre e de Código Aberto (FOSS) orientado para a comunidade. Essas súplicas, discussões e incentivos, até onde sabemos, foram ouvidos e ouvidos com seriedade pelos principais membros dos departamentos jurídico e OSPO da Red Hat e até mesmo pelos principais executivos de nível C, mas acabaram sendo rejeitados e ignorados. — às vezes até com uma “multa, então nos processe por violações da GPL.

Muitos outros acreditam que a Red Hat está violando a GPLv2. Os programadores também não estão satisfeitos com a Red Hat. Graham Leggett, um conhecido desenvolvedor de código aberto, twittou:

“Oi, Red Hat. Você está pegando meu trabalho há cerca de 25 anos e consumindo-o alegremente. Você nunca me pagou, mas encorajei meus clientes a pagarem a você. Talvez seja hora de discutirmos como você vai compensar-nos pelo nosso trabalho.”

O ex-engenheiro sênior da Red Hat, Jeff Law, comentou:

“O que a Red Hat fez recentemente é deprimente, mas não é uma grande surpresa para mim. A Red Hat lutou repetidamente para saber como lidar com ‘os clones'”. A ideia central a que sempre voltava nessas discussões era que o valor não está nos bits, mas na estabilidade, nos serviços e no ecossistema que a Red Hat possibilita em torno dos bits.”

Veja também: Oracle Ataca a IBM por Limitar Acesso ao Código Fonte do Red Hat Enterprise Linux(RHEL)

Fontes: redhat01, redhat02, zdnet, zdnet02, categoriaoutros